quarta-feira, 14 de julho de 2010

Educação, Cybercultura e Multimídia é um dos temas do V Seminário Nacional O Professor e a Leitura de Jornal, em Campinas

Edméa Santos é uma das palestrantes da mesa "Educação, Cybercultura e Multimídia" do V Seminário Nacional O Professor e a Leitura de Jornal, que acontece em Campinas, de 14 a 16 de julho, no auditório da UNICAMP. Confira a entrevista que o Programa Jornal e Educação fez com a professora e pesquisadora.

Educação, Cybercultura e Multimídia é um dos temas do V Seminário  Nacional O Professor e a Leitura de Jornal, em Campinas

"O que torna um software educativo não é o software sem si, e sim as mediações que fazemos com eles" (Edméa Santos)

Edméa Santos é uma das palestrantes da mesa "Educação, Cybercultura e Multimídia" do V Seminário Nacional O Professor e a Leitura de Jornal, que acontece em Campinas, de 14 a 16 de julho, no auditório da UNICAMP. Ela é Doutora em Educação pela UFBA, professora do PROPED da Faculdade de Educação da UERJ. Atua com a disciplina Informática na Educação nos cursos de Pedagogia presencial e a distância. Orienta projetos de pesquisa nas áreas da Informática na Educação, Educação e Cibercultura, Pesquisa-formação. É também organizadora dos livros "Cartografia cognitiva" e "Avaliação da aprendizagem em educação online".

O Programa Jornal e Educação da ANJ, um dos organizadores do evento, entrevistou a professora Edméa. Confira abaixo.

Programa Jornal e Educação - Você descreve em seu artigo no livro Ensino-Aprendizagem Comunicação (WAK Editora) que uma primeira fase da informática na educação foi muito instrucionista, quando as técnicas são mais valorizadas que os processos educacionais. Você ainda vê esse instrucionismo nas escolas? O que seria preciso fazer para superar essa fase?

Edméa Santos - Num primeiro momento não tínhamos no Brasil pesquisa e práticas pedagógicas específicas sobre o uso do computador integrado ao Currículo escolar. O ensino era pautado no uso do computador como ferramenta de automação de processos de gestão ou programação. O professor geralmente era um técnico e a Informática uma mera disciplina extracurricular. Infelizmente ainda temos práticas instrucionistas. O instrucionismo não se define apenas pelo uso técnico da máquina e nem pelo ensino da Informática como área de conhecimento específico. A Pedagogia instrucionista ainda é uma realidade, inclusive em tempos de mídias e redes sociais na e da Internet. Nossas pesquisas constatam esta realidade no estado do RJ e cada vez mais defendemos a tese que é preciso investir em políticas de formação continuada para professores. Avançamos no acesso ao computador e a internet por parte dos professores. Contudo, a formação de professores e gestores ainda é um desafio. Para saber mais sobre nossas pesquisas, acessem nosso site e do nosso grupo de pesquisa (GPDOC- Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura) em WWW.docenciaonline.pro.br

PJE - Como a escola e os ambientes educativos diversos podem aproveitar os recursos que a informática oferece?

ES - A Informática é uma área de conhecimento transversal e deve ser utilizada de forma interdisciplinar nos espaços multirreferenciais de aprendizagem. Inicialmente a escola utilizava, e algumas ainda utilizam, a Informática para a potencialização de competências lógico-matemáticas e para o desenvolvimento do auto-estudo. Concordamos com a prof. Maria Teresa Freitas (UFJF) que o computador e a Internet são instrumentos culturais do nosso tempo. Além de potencializar atividades mentais próprias do seres humanos (processamento, memória, simulação) essas tecnologias potencializam a nossa capacidade de produzir e compartilhar em rede sentidos e significados. Podemos ler e escrever em vários gêneros textuais e com várias linguagens e mídias devido a sua capacidade de fazer convergência de mídias (sons, textos, imagens, gráficos, redes sociais). O trabalho docente deve investir em letramentos digitais variados, inserindo os sujeitos na Cibercultura, que é a cultura contemporânea mediada pelas tecnologias digitais em rede no ciberespaço e nas cidades.

PJE - Você defende a utilização de jogos nos processos educativos?

ES - Sim. Os jogos em geral potencializam a capacidade de lidar com diversas situações de aprendizagem. Os jogos de estratégias e que possuem variados desdobramentos em sua narrativa incentivam a autoria e o protagonismo do sujeito que co-cria a narrativa enquanto joga. No Brasil temos pesquisadores que investem no tema não só como pesquisa e prática pedagógica, como também, no desenvolvimento de jogos educativos gratuitos e livres, que podem ser utilizados pelos professores em geral. Gostaria de destacar o trabalho de alguns professores que trabalham diretamente com o tema dos jogos na educação:

Professora Dra. Lynn Alves da UNEB (WWW.lynn.pro.br).

Professora Dra. Filomena Moita (UEJP) http://www.filomenamoita.pro.br

Professora Dr. João Mattar http://blog.joaomattar.com/

PJE - Os softwares de autoria marcaram uma segunda fase da informática na escola. Quais foram (e ainda são) os benefícios de seu uso? Que experiências podem ser destacadas?

ES - O que chamamos de “fase 2” da Informática na escola é a fase que migra do uso instrumental e dos softwares comerciais para o uso dos “softwares educativos”. Vale ressaltar que o que torna um software educativo não é o software sem si, e sim as mediações que fazemos com estes. Um software comercial pode ser utilizado para a produção de projetos interdisciplinares e autorias. Um editor de texto pode ser utilizado para o desenvolvimento de um projeto de autoria por exemplo. Infelizmente, muitas práticas não avançam para o desenvolvimento de letramentos variados e se restringem ao uso instrumental do software. Em vez de ensinar apenas recursos técnicos temos que ensinar os alunos a lerem e escreverem com estes recursos. Os “softwares de autoria”, agregam recursos para o trabalho com multimídia. No início dos anos 90 do século passado eram caros e pouco utilizados nas escolas públicas. Com avanço dos softwares comerciais e da própria Internet, estes softwares foram praticamente deixados de lado. Hoje encontramos na rede uma infinidade de interfaces que nos permitem criar em rede e colaborativamente textos, imagens (estáticas e dinâmicas), sons. Podemos hipertextualizar nossas autorias e compartilhá-las em redes sociais da e na Internet.

PJE - Como você acha que a informática deve ser trabalhada na escola? Como uma disciplina autônoma? Como apoio e suporte a outras disciplinas do currículo?

ES - Sou contra a disciplinaridade de forma geral. A Informática é um saber transversal e utilizada de forma interdisciplinar. Todos os professores regentes devem lançar mão da Informática em suas práticas. O laboratório de Informática não pode ser mais um ambiente “gélido” e centrado na figura de um informata ou professor específico. Deve ser um espaço de múltiplas linguagens. Defendo a idéia de que o computador conectado esteja na sala de aula comum, na biblioteca e nos demais espaços da escola. O professor ou profissional de Informática deve trabalhar colaborativamente com os demais professores integrando os saberes científicos com os saberes dos cotidianos.

PJE - Em que momento vivemos hoje (de forma generalizada) em relação à informática? Como a WEB 2.0 influencia esse contexto?

ES - Nossas pesquisas revelam que encontramos situações variadas. Convivemos com todas as fases da informática. Ainda temos uso instrumental, trabalhos com softwares e sem conexão, uso da Internet como repositório ou mero saqueamento de informações digitalizadas. Ainda temos escolas que nunca utilizaram a informática em suas práticas. Por outro lado, encontramos também, usos mais autorais e que utilizam os potenciais da interatividade, do hipertexto, da simulação, da convergência de mídias e mais recentemente da mobilidade dos dispositivos móveis. No portal do professor (MEC) temos uma mostra dessa variedade de possibilidades. Vale a pena navegar e conhecer projetos e objetos de aprendizagem desenvolvidos por professores e instituições variadas. No Brasil destacamos grupos de pesquisa que desenvolvem projetos de formação continuada que avançam em relação ao uso instrumental e conteudista das tecnologias. Vale a pena conhecer:

Grupo GPDOC – www.docenciaonline.pro.br

Grupo GEC - http://www.gec.faced.ufba.br

Grupo LIC - http://www.ufjf.br/grupolic/

Grupo Comunidades Virtais de Aprendizagem - http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/

Sala de Aula interativa – WWW.saladeaulainterativa.pro.br

PJE - As políticas públicas brasileiras estão dando conta de preparar alunos e professores para os tempos de cibercultura que vivemos? O que falta?

ES - No Brasil temos constantes avanços e retrocessos em relação às políticas publicas. É preciso mais parcerias entre os governos (federais, estaduais e municipais), as universidades e as escolas. Infelizmente grande parte dos projetos governamentais investem no uso “escolar” das tecnologias e não na questão cultural propriamente dita. Os professores, muitas vezes, são meros consumidores de projetos construídos por empresas de consultorias, grupos e instituições produtoras de conteúdo. Defendo a autoria do professor. A Cibercultura só existe porque seus praticantes são autores de tecnologias. Tecnologias não são apenas artefatos e objetos técnicos, são também e, sobretudo, modos e usos. Cada pessoa ou grupo pode desenvolver usos únicos e contextualizado para as tecnologias na educação. Estes usos podem ser compartilhados e resignificados por outros praticantes ou grupos. Em nossa linha de pesquisa no PROPED (Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ) pesquisamos os usos que os praticantes criam em seus cotidianos. Vale a pena navegar pelo nosso site e pelos jornais científicos e conhecer algumas dessas produções.

Site do PROPED: www.proped.pro.br

Site do Laboratório de Imagem: http://www.lab-eduimagem.pro.br/

Site do Jornal Eletrônica Educação e Imagem: http://www.lab-eduimagem.pro.br/JORNAL/

SERVIÇO

V Seminário Nacional O Professor e a Leitura de Jornal

Data: 14 a 16 de Julho

Local: UNICAMP - Campinas/SP

Informações: http://www.alb.com.br/portal/5seminario/

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