Barrichello, 300 GPs
Este, Barrichello, falando aos jornalistas brasileiros em Spa.
Na Bélgica, ele celebra seu 300º GP na F-1. Não largou para quatro, é verdade, mas participou de alguma forma daqueles finais de semana. É uma marca de respeito, sem dúvida, que merece ser comemorada.
Barrichello tem uma trajetória sui-generis na categoria. Divido-a em três fases.
Garoto prodígio, viu o grande herói morrer na pista e aceitou a tarefa de ser seu substituto. Pior, se empolgou com tal missão, atitude da qual se arrepende profundamente mas que, enfim, marcou a primeira fase da sua carreira. Uma época de promessas grandiosas seguidas por frustrações proporcionais e que, à brasileira, acabou virando piada.
A segunda fase começou em 2000, quando passou a dividir a Ferrari com Schumacher. As promessas grandiosas ("piloto 1B") persistiram. O primeiro momento foi de frustração. Reação contínua, veio o descrédito.
Na média, fez boas corridas. A comparação não era exatamente demérito dele: qualquer piloto, à época, seria massacrado pelo alemão. E vale a ressalva que, em algumas ocasiões, Barrichello superou o companheiro na base do braço, do talento, da sensibilidade. O GP da Alemanha de 2000 é antológico, não apenas para a biografia do brasileiro, mas para a história da categoria.
E é curioso que a terceira fase, quando muitos o julgavam aposentado (e eu cheguei a decretar a aposentadoria), talvez seja a mais feliz de sua carreira.
Porque hoje ele não coloca sobre seus ombros a pressão da primeira nem o peso da comparação da segunda.
Finalmente, na BAR, na Honda e na Williams, Barrichello pôde correr sem ter de provar nada para ninguém. Nem para ele nem para os jornalistas nem para o público nem para as outras equipes. Já está no lucro, já é uma espécie de sobrevida. Daí, o sorriso muito mais fácil de agora.
É verdade que no ano passado perdeu uma chance de ouro de unir essa leveza a um título, fruto de um desentendimento com os freios. Mas acontece, outros pilotos já sofreram problemas parecidos.
Sim, tive minhas rusgas com ele. No dia-a-dia do paddock, em que surgem assuntos nem sempre agradáveis, Barrichello passa longe do rapaz simpático que sorri sempre que a câmera da Globo é acionada. Suas declarações também não são as mais claras possíveis. Mas não acho que isso influencie as análises que faço de sua carreira, de suas corridas, de seu comportamento nas pistas.
Barrichello não tem culpa de não ser aquilo que muitos queriam que ele fosse. Mesmo sem um título na F-1, é parte importante dos 60 anos da categoria, da história do automobilismo brasileiro.
À sua maneira. Gostem ou não.
Fonte <> folha on-line
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